domingo, 26 de julho de 2015
HERANÇA E A INCONGRUÊNCIA DE ALGUNS ARGUMENTOS
Olá, colegas! Espero que esteja tudo certo com todos. Estou começando a escrever este artigo na bacana cidade de Hervey Bay. O local é muito especial por dois motivos. O primeiro deles é que a região é um ponto de descanso para milhares de baleias, ao todo entre 15 mil a 20 mil baleias passam pela costa de Hervey Bay entre o final de julho e começo de outubro, um dos pouquíssimos lugares do mundo onde isso ocorre. Ao chegar na cidade, tive a oportunidade de avistar algumas baleias. O segundo motivo é ser a porta de entrada para a famosa Fraser Island. Marquei um tour de três dias e duas noites. Geralmente, o custo gira em torno de 500 dólares, mas consegui por meio de um site chamado bookme o preço de 250 dólares, o que é bem razoável. Irei pilotar um 4x4 no meio de dunas, praias e lagos, seguindo um 4x4 de um guia com experiência. Creio que será uma experiência fantástica. Falando em experiências extraordinárias, os últimos três dias foram demais. Não estava no roteiro, mas resolvi fazer um desvio de “apenas” 900km e visitar dois parques nacionais quase perto do outback australiano. O primeiro foi especial, só havia eu e a Sra. Soulsurfer num parque nacional belíssimo. Uma estrada sinuosa, cheia de buracos, de terra e com declives para dormirmos literalmente no meio da floresta. O outro parque foi algo surreal. Fiz uma trilha de 25km, a maior da minha vida em único dia, e foi simplesmente inacreditável. Estou com vontade de escrever sobre essas experiências, mesmo que não seja do interesse da maioria dos leitores desse blog, mas resolvi dissertar sobre algum tema diferente de viagens. O assunto escolhido foi herança.
Abordarei o tema sobre uma perspectiva não muito usual, talvez seja a primeira vez que muitas pessoas pensem ou reflitam a respeito com esse viés. Se este for o caso, creio que a função do artigo, se é que um artigo desse blog precisa ter alguma finalidade - eu creio que não - , terá sido atingida. Na verdade, irei falar sobre o tema mais precisamente apontando a incongruência de alguns argumentos. Vejam, estimados leitores, não há nada pior para uma argumentação do que a incoerência. Numa discussão séria, quando uma incongruência é mostrada, a discussão acaba. Eu fico muito surpreso quando, mesmo com as eventuais contradições do discurso apontadas, a conversa ainda continua. Isso não tem nenhuma lógica, e não é nem um pouco racional. Quando digo que a discussão acaba, obviamente não é do tipo “ah, não leio mais sobre isso” ou “ah, você pensa diferente de mim, você na verdade é isso (colocar qualquer rótulo)” ou argumento do tipo Katchanga "sua opinião é muito rasa e superficial". Não, a discussão acaba, pois quando um discurso cai em contradição, ele soçobra, ele simplesmente desmorona e querer salvá-lo não faz sentido. É verdade que um eventual debatedor pode não reconhecer a contradição, e obviamente isso também é legítimo, desde que seja apoiado em argumentos, não em discursos emocionais.
Pois bem. Feita a pequena digressão do parágrafo anterior, posso iniciar o tema do artigo. Quando se fala em herança, o senso comum, ou a imagem que vem na cabeça, é muito provavelmente a herança individual, quase sempre algum(ns) imóveis. Não é uma imagem errada. O que é a herança senão a passagem do capital acumulado de uma geração para a próxima. Já escrevi sobre o tema, mas não custa relembrar alguns conceitos básicos.
Basicamente, um indivíduo pode ter renda do seu trabalho ou renda de capital. Para se ter renda de capital, é necessário possuí-lo. A afirmação é quase tautológica, mas é crucial para entendermos alguns fenômenos. A independência financeira almejada por muitos blogueiros ou não, nada mais é a situação onde uma renda proveniente de um capital previamente acumulado seja suficiente para manter um determinado padrão de vida. Logo, a pessoa nessa situação não precisa de renda do seu trabalho, ela, se assim o quiser, pode manter-se apenas com a renda do seu capital. Como se pode conseguir capital? Colegas, só há duas maneiras: por meio da poupança de uma parte da renda do salário ou recebendo o capital acumulado por alguma outra pessoa. A herança nada mais é do que um exemplo do segundo caso. Num caso mais corriqueiro, por exemplo, um filho recebe uma casa - que nada mais é do que capital acumulado na forma de imóvel - do seu pai falecido. Assim, o filho agora possui capital acumulado e pode usufruir renda desse ativo, no caso por meio de aluguéis, ou se for do seu desejo simplesmente vender a casa e gastar o patrimônio herdado.
Qual é o mérito do filho que herdou essa casa? Muito provavelmente nenhum. Falo provavelmente, pois às vezes o filho pode ter ajudado o pai de alguma maneira a adquirir esse bem. Entretanto, na maioria dos casos, não há mérito algum, os herdeiros apenas recebem um capital acumulado às custas do esforço dos outros, nesse caso a geração anterior. Por causa desse motivo, muitas pessoas bradam e dizem: “ Eu prosperei pelas minhas próprias forças, sou um vencedor, não herdei nada de ninguém. Aliás, a herança é um mal, o que importa é a herança ‘educacional’". Certo, prossigo com o raciocínio.
Qual é o mérito de um dinamarquês ter nascido na Dinamarca? “ Como assim, Soul?” Não entendi o ponto” alguém pode pensar. Repito a pergunta: Qual é o mérito de um dinamarquês ter nascido na Dinamarca? A resposta só pode ser nenhum mérito. O motivo da pergunta ficará mais claro no decorrer do artigo.
O que torna uma pessoa rica? Quem me conhece, nem que seja apenas pelos artigos do blog, pode muito bem imaginar que a verdadeira riqueza para mim não se mede com bens materiais. As verdadeiras relações humanas não são construídas e mantidas por meio de dinheiro, na verdade ele é um dificultador , mas por outras coisas. Entretanto aqui irei usar o termo riqueza no sentido apenas financeiro. Uma pessoa é rica em função do seu patrimônio acumulado, seja por meio de poupança, seja herdado. E o que torna um país rico? A resposta para a questão é a mesma da resposta para os indivíduos: capital acumulado Se a questão o que torna uma pessoa rica é mais comum, a pergunta sobre os países é mais infrequente.
Muitas pessoas, de maneira incorreta é claro, tendem, nem que seja por processos mentais involuntários, a pensar que os países ricos são ricos desde sempre. A Dinamarca sempre foi uma ilha de prosperidade, e na Nova Zelândia sempre se viveu bem. É como se a riqueza acumulada tivesse brotado. Não foi assim que aconteceu. O capital de um país não se acumulou da noite para o dia. Gerações precisaram construir com “sangue, suor e lágrima” na forma de poupança o capital acumulado do país.
Se você visitar um site da internet como o Instituto Mises Brasil, irá ver inúmeros artigos falando que os sindicatos do final do século 19 e começo do século 20 não tiveram qualquer participação na melhora de vida dos trabalhadores. Lá naquele espaço virtual, geralmente de forma virulenta, costuma-se dizer que “quem acha que a vida no século 19 era igual a vida dos confortos e comodidades do século 21, não passa de um ignorante”. E qual é a principal diferença entre a vida de 150 anos e agora? Segundo os coordenadores do próprio site a principal diferença é o capital acumulado. Concordo que essa é uma grande diferença, e que a vida de hoje é muito mais fácil do que a de outrora, porém ir ao extremo de negar conquistas de movimentos organizados parece-me não se sustentar. Porém, esse não é o foco aqui, o que quero chamar atenção, é que até para uma ala de pensamento mais “extrema” de pensamento econômico a geração atual só pode ter uma vida melhor pelo acúmulo de capital das gerações anteriores.
E o capital acumulado pode ser de várias formas. Pode ser o capital humano da alta educação passada de uma geração para a outra. Pode ser o “capital" de instituições sólidas. Muitos falam do Brasil e de suas instituições, mas eu me pergunto se essas pessoas algum dia refletiram sobre o que muitos países desenvolvidos passaram para chegarem no estágio atual. O preço que gerações inteiras pagaram com muito sofrimento, algo que nem remotamente aconteceu no Brasil. Na Europa, duas guerras devastaram o continente, e as cicatrizes desses conflitos podem ser vistas até hoje, mesmo com quase 70 anos do fim da segunda guerra mundial. Talvez não se reflita que a revolução francesa, que nada mais foi uma revolução para a obtenção de direitos humanos, data de 1789. Portanto, as instituições de muitos países foram obrigadas a evoluir depois de muito sofrimento, doação e bravura de muitas gerações. Assim, um Francês que nasce hoje, um Australiano que possui 20 anos, recebeu um país rico, sem fazer absolutamente nada para tal, ele apenas nasceu no local correto na hora certa.
Talvez a pergunta sobre o Dinamarquês comece a fazer mais sentido agora. Um Dinamarquês de 20 anos não possui qualquer mérito em ter nascido num país com um capital, sobre as diversas formas, acumulado tão grande. E qual é a consequência disso. Comparemos com um jovem de 20 anos nascido na Somália. Em média, o jovem Dinamarquês viverá muito mais, será muito mais rico, terá uma educação formal infinitamente superior, provavelmente falará mais de uma língua, se comparado com o jovem Somali. Falo em média, pois obviamente sempre poderá ter as exceções, mas a média , nesse caso específico, nada mais é o que acontece com a maioria das pessoas. Ignorar os dados, por causa de alguma história individual, não faz o menor sentido e apenas atrapalha num correto entendimento sobre a realidade.
Imagine colocar um jovem médio Dinamarquês ao lado de um jovem Somali. Aos olhos de uma sociedade (e eu fico assustado como tantas pessoas podem se apequenar tanto e considerar sucesso financeiro como sinônimo de sucesso humano, escreverei um artigo especificamente sobre isso) onde o sucesso material representa quase tudo, fica claro que o europeu parecerá um vencedor, e o africano um perdedor. Porém, qual é o mérito do Dinamarquês nisso tudo? E qual é a culpa do Somali nisso? Evidentemente, não ha mérito, nem culpa, o mundo é apenas assim. Uns tem sorte de ter nascido em países com grande acúmulo de capital na época certa (e não há 200-250 anos), outros, muitos outros diga-se de passagem, tiveram o azar de nascer em países com quase nenhum capital acumulado.
Fica evidente que ninguém prospera sozinho. Ninguém é o vencedor solitário da sua própria vida. Um dos homens mais brilhantes de todos os tempos (ao lado de Einstein em minha opinião), disse certa vez, ao ser congratulado por suas teorias, que ele nada mais tinha feito que “se apoiado no ombro de gigantes” - foi Isaac Newton que proferiu essas palavras. Uma das maiores mentes de todos os tempos foi humilde o bastante para reconhecer que sem gerações anteriores, sem o conhecimento anterior acumulado, muito provavelmente não seria possível para ele chegar nas conclusões cientificas sobre gravitação, cálculo, etc. No meu primeiro artigo sobre a Austrália, destaquei expressamente uma frase de uma placa num memorial da segunda guerra que dizia: “Nós estamos aqui hoje, devido aos lugares em que estivemos ontem”. Destarte, os australianos de hoje apenas tem uma boa vida, pelo esforço das gerações anteriores, seja acumulando patrimônio, seja entregando a própria vida em conflitos sangrentos.
Assim, o simples fato de você ter entre 20-40 anos e ter nascido no Brasil já o coloca numa posição de superioridade de quase mais do que a metade da população humana. Se você teve sempre um teto e comida na mesa, independente de sua origem, então a sua situação com certeza foi muito mais privilegiada do que a maioria dos seres humanos. E você não tem qualquer mérito nisso. Não acredita? Imagine, faça um esforço, como seria a sua vida, se ao invés de ter nascido em São Paulo ou no Rio de Janeiro, ou em qualquer outra cidade brasileira, você tivesse nascido em algum campo de refugiados em algum país esquecido da África. Sua mãe estuprada por cinquenta soldados rebeldes de uma só vez, quatro dos seus cinco irmãos assassinados. A sua expectativa média de vida de dezenas de anos a menos do que um europeu de um país desenvolvido. Não há educação, não há empregos, há apenas desespero. Imaginou-se nessa vida? Não se importa com isso, pois não lhe diz respeito? Talvez não diga, o que é uma atitude triste em minha opinião, mas saiba que você é privilegiado de ter nascido num país de renda média como o Brasil, com instituições relativamente estáveis nas últimas décadas. Você não possui qualquer mérito nisso, bilhões de seres humanos serão mais pobres do que você (eu disse bilhões, não milhões), viverão em média menos do que você, terão muito menos educação formal do que você, e você não possui qualquer mérito nisso.
A incongruência maior de pessoas que repudiam a herança no nível individual é quando as mesmas admiram e buscam morar em países com uma patrimônio acumulado gigantesco de gerações anteriores. Ora, se uma pessoa despreza a herança em nível individual, uma atitude plenamente justificável, cai numa contradição enorme ao querer desfrutar a riqueza acumulada por gerações que nem mesmo lhe dizem respeito. Um jovem australiano de 20 anos pode ter tido um avô que faleceu na segunda guerra mundial o que pode ter causado um trauma no seu pai que pode ter sido passado para ele na forma de uma infância não tão feliz, ou pode ter tido um pai que poupou bastante e ajudou o país a prosperar, ou seja, pode ter algum vínculo, nem que de forma indireta, com as privações necessárias para a construção de riqueza financeira e institucional. Um brasileiro que queira morar na Austrália, com quase toda certeza, não possui qualquer elo, nem de forma indireta, com as gerações australianas anteriores. Ou seja, a pessoa irá usufruir o bem-estar geral de uma sociedade sem ter qualquer mérito ou participação nisso.
Faria muito mais sentido, e seria muito mais lógico, se uma pessoa que despreza a herança no nível individual fosse para países como Somália, Sudão do Sul, República Democrática do Congo, Yemen, ou seja, países com quase nenhum capital acumulado em nenhuma das formas. Lá, elas poderiam exercer o “mérito” próprio em toda plenitude, sem qualquer apropriação do capital acumulado de gerações anteriores. Bradar com toda força que não é um herdeiro individual, mas querer ser um herdeiro da riqueza alheia de outros países não possui qualquer coerência.
“Mas, Soul, e a riqueza passada a nível individual, não há nenhum mérito nisso”, claro que não colega, como expressamente dito por mim nos primeiros parágrafos. Não há qualquer mérito em receber uma herança substanciosa. Receber um grande capital acumulado de uma geração anterior obviamente desequilibra o jogo. Imagine então receber uma herança individual e ainda nascer num país como a Alemanha? Alguém realmente acha que há qualquer mérito numa disputa assim? É evidente que não. Tanto é verdade, e aqui cito mais uma vez o IMB, que mesmo a ala libertária de pensamento econômico não fala em mérito em conquistas financeiras, mas sim em geração de valor , uma ideia que para mim tem os seus furos e posso abordar qualquer horas dessas em algum artigo, mas com certeza é muito mais forte do ponto de vista argumentativo do que a simples ideia de mérito. A própria noção de mérito é supervalorizada, e se eu trazer à tona estudos na área de neurociência, o que para mim é vital em qualquer discussão minimamente séria sobre comportamento humano, isso é ainda mais evidente. A vida em sociedade humana na maioria das vezes nada mais é do que uma sucessão de atos aleatórios sobre os quais os indivíduos tem pouco ou nenhum controle. É basicamente sorte ou azar. Há tantos filmes e livros que tratam sobre essa temática nas mais variadas formas, que fica difícil enumerar. Porém, cito o ótimo livro escrito pelo físico Leonardo Mlodinov (há ótimos livros dele como "A Janela de Euclides") chamado “O andar do Bêbado - Como o acaso determina nossas vidas”. É um livro simples e fácil de ler e muito interessante.
Um ótimo livro. Se quer ler novos livros, não leia livros que apenas corroboram o que você pensa. Sempre irei bater nessa tecla. Desafie o seu sistema 2, e amplie o seu horizonte racional e cognitivo.
Há um video muito interessante de uma entrevista onde o economista Milton Friedman responde a uma pergunta sobre mérito ou não de herdeiros e se a herança não deveria ser brutalmente taxada. A resposta dele foi mais ou menos no sentido de que um dos maiores incentivos de uma geração é construir uma vida melhor para a geração posterior e que um imposto alto sobre a herança iria simplesmente destruir essa lógica, fazendo com a geração atual simplesmente não se desse mais ao trabalho de poupar e entregando-se ao consumo conspícuo. O homem que disse que “a única função social de uma empresa é gerar lucro” raciocinou de que cada geração deve deixar a vida da geração posterior melhor. Nesse ponto, eu concordo inteiramente com ele. A geração atual tem obrigação de deixar o mundo de um jeito pelo menos igual, de preferência melhor para gerações futuras. Infelizmente, não é o que provavelmente vai ocorrer, mas aqui já entro na seara de um tema que chama muito minha atenção que é a insustentabilidade da forma atual de consumirmos e nos organizarmos economicamente, o que não é o tema desse artigo.
Portanto, recapitulando e me encaminho para o final do artigo. Não há qualquer mérito em receber capital acumulado de uma outra geração, seja na forma individual, seja na forma coletiva nas mais diversas formas de capital. Não há qualquer problema lógico ou filosófico de se desprezar a herança individual, desde que a pessoa queira emigrar para o Sudão do Sul, não para a Alemanha ou outros países de grande capital acumulado por gerações anteriores. Caso não queira emigrar, para a posição continuar coerente, a pessoa deveria advogar que todo o capital acumulado anterior do país onde vive, por exemplo, fosse destruído, pois não há mérito em receber pontes, estradas, aeroportos, ativos que vieram do acúmulo de gerações passadas. Um dos maiores representantes dos economistas libertários acredita que um dos principais incentivos da geração atual é proporcionar uma vida melhor para gerações futuras. Não, você não é um triunfante vencedor solitário que venceu por méritos exclusivamente próprios num mundo caótico, muito provavelmente você teve sorte de nascer em um país não devastado, com capital médio acumulado e com instituições minimamente estáveis.
Por fim, o exemplo de emigração não foi tendo ninguém em vista. Primeiramente, porque sei que muitos que escrevem, ou leem sobre finanças, possuem o desejo legítimo de emigrar. Em segundo lugar, porque eu não faço a mínima ideia do que as mais variadas pessoas pensam sobre herança. Agora, se alguém por ventura despreza a herança individual, e quer emigrar para países com grande capital acumulado, fica a reflexão sobre a incoerência da postura. Por último, antes que venham os usuais comentários agressivos com falácias ad hominem, respondo que muito provavelmente serei um herdeiro individual. Tive sorte de nascer numa família onde houve acúmulo de capital, seja financeiro, seja educacional, seja ético. Sou um privilegiado e não tenho qualquer mérito nisso, tive apenas sorte de nascer nessa família. Entretanto, minha IF não depende disso, e meus cálculos quase nunca levam isso em consideração. Se eu for considerar o que provavelmente num futuro venha a herdar ou receber como doação , caso todo o capital acumulado seja passado ainda em vida, a IF de filhos que ainda nem tenho estaria assegurada. Aliás, é assim que eu vejo. Caso eu tenha filhos, e eles venham a crescer e a se desenvolver com fortes princípios éticos, pretendo apenas ser um fiel depositário de todo o capital acumulado ganho por mim, ou simplesmente recebido das gerações anteriores da família.
É isso, não sei se conseguirei postar o artigo antes de ir para a Fraser Island. Espero que eu tenha uma grande experiência, assim como espero que todos tenham uma ótima semana.
obs: só consegui publicar o artigo agora. A Fraser Island é um local único no mundo. Foi muito especial mesmo a experiência, fora as pessoas excepcionais que eu conheci no passeio. Show de bola mesmo.
Grande abraço!
sábado, 18 de julho de 2015
AUSTRÁLIA - WALLAMAN FALLS: UMA SURPESA EXTRAORDINÁRIA
Olá, amigos! Iria escrever sobre herança neste artigo. Entretanto, tenho ficado muito cansado de noite, o que impede um pouco de tentar escrever textos de mais qualidade. Além do mais, a última semana foi muito bacana, o que me incentivou a escrever novamente sobre viagem, já que é bem fácil e rápido discorrer sobre este tema, ainda mais com as memórias bem vivas na mente.
Pois bem. Após o nascer-do-sol magnífico relatado no final do último artigo, fomos conhecer um pouco a região de Mission Beach. O local é muito bacana e Mission Beach na verdade é dividida em quatro pequenos “vilarejos” com nomes diversos. Nós ficamos num caravan park na praia de Wongaling Beach. O Park era do lado de uma empresa de skydive, o free wi-fi na verdade era dessa empresa, e de manhã sempre ficava lotado de estrangeiros bem jovens querendo ter a experiência alucinante (contarei um pouco sobre quando em algum artigo detalhar mais meu salto na fabulosa cidade de Taupo) de queda livre por um minuto. O pulo é feito perto da praia, o que permite, creio eu, apreciar um pouco a grande barreira de corais enquanto se está no céu. Deve ser bem interessante. Depois de ver alguns paraquedistas chegando na praia, resolvemos ir para a praia mais ao sul e fazer uma trilha de 8km (Kennedy Track). Na Nova Zelândia, eu andei muito. Talvez tenha feito mais de 250Km em trilhas. Não sei como aguentei, talvez tenha sido o meu preparo prévio direcionado na academia para caminhadas. Os diversos exercícios de agachamento, às vezes com mais de 30 repetições numa única série, aparentemente deram resultado. Entretanto, creio que a minha energia foi um pouco drenada. Não me animo mais a fazer trilhas tão longas quase que diariamente. Pode ser também as paisagens. A Nova Zelândia é o país das trilhas. É impressionante. As paisagens são magníficas e a estrutura não fica devendo nada a beleza natural. Assim, acho que fiquei mal acostumado, achando que toda trilha vou encontrar cenários de indescritível beleza, o que evidentemente não é verdade para a esmagadora maioria dos trekking em qualquer lugar do mundo. Todavia, lá estava eu de novo caminhando uma distância mediana.
E valeu a pena. Foi uma caminhada espetacular passando por uma praia selvagem, mangues com placas de crocodilos e trechos quase em cima do oceano. Foi muito legal mesmo. Para completar o dia, avistamos mais uma vez um Cassowary. Dessa vez, cheguei ainda mais perto e foi maneiro. Depois de ver pela segunda vez a ave, pensei comigo mesmo que não é tão difícil encontrar essa espécie, mas conversando com outras pessoas quase ninguém conseguiu avistar um. Provavelmente foi apenas sorte. De noite conhecemos um casal francês muito simpático. Não gosto de generalizações, mas os franceses costumam ser mais reservados e fechados quando estão viajando. Entretanto, esse casal era diferente. Chamavam-se Pierre e Lucie. Falei que não conseguia imaginar nomes mais franceses do que estes, e eles apenas riram. O papo foi muito gostoso. É interessante quando você encontra alguém no mesmo estado mental que o seu, mesmo que seja um desconhecido, parece que a conversa flui de uma maneira impressionante. Quando perguntei se valia a pena fazer uma viagem tão longa pelo outback, ela já tinha feito duas vezes por trajetos distintos, ele respondeu “Algumas pessoas acham chato, mas creio que você precisa sentir o deserto, você entende?”. Assenti que sim com a cabeça. Já conversei com pessoas que me disseram que é muito chato viajar pelo deserto. Outras me disseram que sim o deserto pode ser monótono, mas há algo de especial, há pequenos detalhes e momentos únicos que tornam uma viagem como essa especial. Como quero ter a minha própria opinião, creio que viajarei pelo centro da Austrália. Conversamos sobre muitos tópicos: África - ele possui um irmão que mora em Madagascar, violência no Brasil e em Paris, viagens, sentido da vida, a cultura Maori e sua diferença para os Aborígenes, o que é uma boa vida, entre tantos outros temas. Um completo desconhecido se transformou num grande companheiro de conversa numa noite estrelada.
A trilha passava por locais muito bonitos, teve uma parte que ia margeando o mar pelas rochas.
O final da trilha era num mangue chamado Kennedy Bay.
Tinha que se caminhar por uma longa praia deserta para continuar a caminhada
Mais uma bela caminhada!
Ver um cassowary pela segunda vez, ainda mais perto, foi muito massa!
Ainda chegamos a fazer mais uma trilha, que passava por rios muito bonitos. O único problema foi a quantidade absurda de mosquitos. Nunca tinha sentido isso. Eu tinha que andar me abanando e tomei inúmeras picadas.
De manhã partimos em direção ao sul, como será rotina nos próximos milhares de quilômetros. Passamos por uma cachoeira muito bonita. Ficamos conversando um bom tempo com um casal australiano já de idade avançada bem simpáticos. Aliás, a educação e cordialidade dos australianos é fantástica. impressionante mesmo. Uma educação que faz muita falta em nós brasileiros. Chamei atenção para esse detalhe, e o Sr. apenas respondeu “ Por que? No Brasil as pessoas não são cordiais e amistosas?” Sai pela tangente falando de nossos problemas políticos e econômicos, pois não quis passar uma imagem triste do nosso país para alguém que talvez não conseguirá entender a complexidade da nossa psique cultural. Apenas lamento que a minha foto com a go pro não pegou a Senhora, apenas o Sr. Uma pena, mas foi um contato muito bacana. Aliás, a quantidade de pessoas de idade viajando com caravana é enorme. Na verdade, nestes lugares gratuitos que paramos, quase sempre somos os únicos jovens. A Sra., não lembro o nome de nenhum dos dois, me disse que é muito comum aposentados viajarem meses e meses pelo país. São conhecidos como os “Grey Nomads” Muito bacana mesmo, um estilo de vida. Ao invés de ficar vendo televisão, reclamando da vida, eles pegam a estrada, fazem amigos, interagem com outras pessoas e assim encaram a etapa final da vida de uma forma muito mais serena e tranquila. Um exemplo para muitos senhores e senhoras de idade no Brasil. Aliás, como tratamos mal os nossos idosos. Vou escrever um artigo apenas sobre isso, e a completa irracionalidade que é não ter um profundo respeito por aqueles que conseguiram atingir muitos anos de vida.
Murray Falls. Muito melhor envelhecer como muitos idosos australianos fazem. Educação exemplar e muito simpáticos.
Seguindo viagem, paramos num lookout da ilha de Hinchinbrook. . Infelizmente, não visitei esta que é a maior ilha parque nacional do mundo, bem como possui uma das trilhas naturais mais famosas do planeta. Pedi para um coroa tirar uma foto minha e da Sra. Soulsurfer. Engatei uma conversa e o sujeito era uma figura. Chamava-se Bill, tinha nascido na Itália, mas morava na Austrália desde os 9 anos de idade. Tinha 54 anos, mas me disse que não lembrava quase nada dos últimos anos de aposentado, mas as memórias de quando era criança na Itália eram muito vivas para ele. Pudera, a infância realmente é uma fase especial na vida de um ser humano. É por isso que devemos cuidar das nossas crianças, pois essa é uma etapa central no desenvolvimento do indivíduo. Contou-me também que a época mais feliz da vida dele foi quando ele comprou a primeira motocicleta aos 17 anos. Disse que possuía uma namorada em cada cidade e sempre viajava com uma sacola cheia de Pot (maconha) atrás da moto. Ao mesmo tempo que ele falava, ia sorrindo, e só imagino as reminiscências de uma outra época povoando a memória dele. Foi um encontro breve, mas bem interessante, pois apesar do passado doidão - eu particularmente não gosto de nenhuma droga, apenas bebidas alcóolicas de vez em quando -, ele me disse muitas coisas que revelam um grande entendimento de como viver uma boa vida. Engraçado foi ele falando como as novas tecnologias estão de certa maneira afastando o verdadeiro contato humano, eu assentido com a cabeça e tentando discretamente guardar o meu smartphone no bolso, e ele me dizendo, ao perceber o meu gesto, a frase típica dos aussies: “No worries mate!”. Um verdadeiro figura esse Bill.
Nesse belo lookout tive uma breve, engraçada e inusual conversa com um sujeito chamado Bill
Ao chegar na cidade de Ingham, vi no guia que tinha menção a uma cachoeira chamada Wallaman Falls. Ficava 50km distante e ainda por cima era uma estrada estreita e sinuosa com uma boa parte não asfaltada. Depois de ver tantas cachoeiras bonitas pensei comigo mesmo que não valeria a pena um desvio tão grande da rota. Além do mais, já estava quase no final da tarde, e não teria como ir e voltar da cachoeira sem dirigir de noite. Dirigir à noite na Austrália é bem perigoso, muito por causa dos cangurus. Infelizmente, é muito comum ver cangurus atropelados nas estradas. Entretanto, por desencargo de consciência, resolvi ir ao centro de informações turísticas da cidade. Havia duas senhoras de idade atendendo com o crachá de voluntárias. É muito comum, na Nova Zelândia também o era, ver pessoas idosas como voluntárias dando informações a turistas. Uma maneira muito eficaz, barata e boa de colocar gente disposta e educada para dar informações e ao mesmo tempo integrar os idosos de forma ativa na comunidade. Como não poderia deixar de ser, as senhoras foram extremamente simpáticas e prestativas. Disseram para mim que se eu saísse em 10 minutos, poderia chegar ainda com luz do dia na cachoeira. Seria possível também dormir no parque nacional, desde que reservássemos por telefone junto ao órgão governamental competente. Ela me colocou no telefone, e tenho que confessar que foi um pouco burocrático, mas em poucos minutos tinha reservado um espaço no camping para duas pessoas ao custo de 12 dólares. As senhoras simpáticas me disseram que eu não iria me arrepender de ir conhecer a Wallaman Falls. Como elas estavam certas.
Depois de dirigir dezenas de quilômetros por uma estradinha sinuosa e extremamente estreita, chegamos no estacionamento da cachoeira. Desci do carro, e não estou mentindo nem exagerando, foi uma das maiores surpresas que eu já tive na vida em relação a lugares naturais. Quando eu vi a queda d’água, o meu queixo quase caiu, apenas pensei comigo mesmo “PQP, que lugar é esse!”. Amigos, parecia que o Sr. Tolkien tinha escrito um quarto livro do Senhor dos Anéis, e eu estava em algum cenário imaginado pelo Peter Jackson para rodar o quarto filme. O que é aquele lugar. Uma cachoeira sublime no meio de um vale que parecia saído de algum filme do Jurassic Park, ou da série “Mundo Perdido”. Eu fiquei uns 20 minutos como bobo olhando aquele cenário surreal, não conseguia acreditar. Foi necessário a Sra. Soulsurfer me dar um cutucão para avisar que estava ficando muito escuro e que ela precisava de um mínimo de luz para cozinhar a janta. Caramba, que lugar sensacional, que supresa incrível para os meus sentidos. Não tenho dúvidas que devem existir quedas impressionantes nesse mundão em Bornéu, na Amazônia, e em outros lugares selvagens. Porém, uma cachoeira como essa tão acessível eu acho difícil. Achei até mais impressionante do que a já impressionante Angels Falls (ver sobre no meu artigo sobre a Venezuela ).
No local, conhecemos um casal bem jovens de alemães. Aliás, há tantos alemães jovens viajando que eu adaptei a "piada" dos advogados e sempre digo que se balançar uma árvore provavelmente cinco alemães irão cair, e todos os gringos dão risada, alemães inclusive, quando conto essa “piada" bem fraquinha. Entretanto, não é brincadeira, o que tem de alemão entre 19 e 22 anos viajando não está no gibi. A economia da Alemanha deve estar muito boa mesmo, para ter tantos jovens viajando. A maioria deles tira um ano de working visa. Economiza uma bela grana em alguns meses trabalhando e aproveita para viajar, principalmente pelo sudeste asiático. Uma bela experiência. Aliás, se você tem menos de 30 anos, reclama do Brasil, reclama da falta de dinheiro, faça um esforço, consiga um working visa, e vá se aventurar no mundo. Perguntam-me aqui nesse blog sobre custos, mas a verdade é quem quer faz, principalmente se é jovem. Não há nada mais deprimente e irritante do que ver jovens sem problemas de saúde reclamando da vida. Porém, paro essa digressão por aqui. O jovem casal era bem simpático. Ela chamava-se Freya e o nome do rapaz eu não me lembro. A particularidade era que a Freya tinha uma irmã que morava em Brasília há 11 anos, pois trabalhava na embaixada da Alemanha. Casada com um brasileiro, segundo ela estava bem adaptada à realidade brasileira e não pensava em voltar para a Alemanha. Uma das únicas palavras que ela sabia em português era Borboleta. Alguns estrangeiros sabem falar “obrigado”, outros que conviveram com jovens brasileiros conseguem dizer algumas expressões chulas. Ouvir a palavra borboleta da boca de uma alemã foi algo extremamente inusitado. Não deixa de ser surprendente a história.
Sem palavras para descrever tanta beleza.
Pôr-do-Sol num lugar como este não tem como esquecer tão fácil...
Ao chegar no camping que localizava-se ao lado da cachoeira, fomos saudados por um grupo animado de quatro jovens, adivinhem, alemães. Depois de fazer a nossa janta, fomos dividir a fogueira com eles, juntos também com o outro casal de alemães que tínhamos conhecidos na cachoeira. Foi uma noite memorável. Fazia anos e anos que não ficava na frente de uma fogueira jogando conversa fora. A noite estava estrelada e bonita. Não fazia frio, o clima estava sereno. Os alemães eram bem simpáticos, havia até mesmo uma judoca sonhando com as olimpíadas, e passamos horas bem agradáveis em mais uma noite que levarei comigo por muito tempo.
Memorável noite em volta da fogueira no Parque Nacional
Na manhã do outro dia, fomos juntos com os seis alemães fazer a trilha até a base da cachoeira. O objetivo era tomar banho na mesma. A trilha, apesar de íngreme, foi bem tranquila. Ao chegar no lookout, havia um sinal de que as rochas a partir daquele ponto eram extremamente escorregadias e não era permitido seguir adiante. Os alemães continuaram e eu tentei andar, mas o meu tênis escorregava como sabão e eu desisti da ideia, pois a cachoeira era muito longe. Os alemães também desistiram. Mesmo não chegando na “piscina” da cachoeira, foi uma experiência bem bacana, os alemães ainda tiraram um sarro com o 7 a 1 (gol da Alemanha), e eu fiz um vídeo muito divertido com eles. De tarde, tomamos banho num rio que estava congelando, mas é sempre bom tomar banho de rio, principalmente num lugar como aquele. Despedimos dos alemães, era hora de tomar nosso rumo, e é interessante ver como as garotas alemães não tem prática em se despedir dando beijos, o que torna a situação às vezes engraçada.
Impressionante
Ver a cachoeira de baixo foi tão espetacular como admirar de cima...
7 a 1 gol da Alemanha. Grupo de jovens alemães que nos fizeram companhia da noite anterior e na caminhada
Rio congelando, mas foi bacana tomar banho junto com os alemães.
Acabamos voltando para a cidade de Ingahan, pois eu fazia questão, além de ser o trajeto natural para o nosso próximo destino, de agradecer as senhoras pela dica em relação a Wallaman Falls, pois a experiência tinha sido incrível. Chegando no tourist information, infelizmente elas não estavam lá e eram dois senhores. Pedi para agradecer em nome do casal brasileiro. Na cidade, ainda formos a um santuário de pássaros, num lago cheio de flores de uma grande beleza chamado Tyto Wetlands. Na noite, o acampamento, gratuito também, foi na aprazível cidade com o peculiar nome de Rolling Stones. O local era muito bonito, situava-se na beira de um rio e tinha uma boa estrutura para um camping gratuito.
Belíssimo parque Tyto Wetland
No outro dia, fomos para mais uma atração, essa um pouco mais conhecida, chamada Big Cristal Creek. Queria particularmente ir nos rock slides, como o nome diz deslizar nas pedras para cair num lago, pois eu não fazia isso desde criança. Chegando ao local, percebi que não tinha água suficiente para deslizar, mas o local era muito bonito. Entretanto, ao me aproximar das “piscinas” naturais, eu me surpreendi novamente. Além da água ser cristalina de uma cor linda, a água era morna. Barbaridade! Não pensei nem um minuto, como ainda era cedo e não havia ninguém, tirei a roupa e tomei um belo banho desnudo. Que coisa boa! Uma das boas coisas da vida é tomar banho sem roupas seja numa praia, numa lagoa ou num rio. Fazer isso no meio da selva, numa lagoa cristalina com uma pequena cachoeira foi demais mesmo. Após a pequena “aventura" nas lagoas, passamos pelo Big Cristal Creek propriamente dito, e o local era fabuloso. Uma lagoa gigante transparente com inúmeros peixes e dezenas de tartarugas. A poucos quilômetros dali ficava o Little Cristal Creek e a sua charmosa ponte. A construção foi feita no começo da década de 30 e foi uma das inúmeras obras públicas realizadas com o intuito de fornecer empregos para a grande massa de desempregados da grande depressão. O local é lindíssimo. Lagoas cristalinas e diversas cachoeiras. Não resisti e tomei mais uma vez banho, apesar que neste local a água era muito mais fria. De tarde, seguimos por uma estrada sinuosa, mas muito bonita até o vilarejo de Paluma. Um povoado com algumas centenas de pessoas, é conhecido como a cidade das névoas, pois fica no meio de floresta que geralmente é cercada por muita neblina, o que cria um clima todo especial. Fizemos uma trilha no meio de uma floresta densa até um lookout, mas não conseguimos ver nada por causa da espessa névoa. Após aproveitarmos o simpático vilarejo, fomos para a cidade razoavelmente grande (200 mil habitantes) de Townsvillle. Antes de chegarmos a cidade, paramos numa tenda de fruta. Você podia pegar frutas frescas e baratas e depositar o dinheiro numa caixa. Quando estávamos indo embora, a dona da tenda chegou. Era uma Senhora adorável de fala mansa. Depois de conversamos um pouco e falarmos sobre a nossa viagem, ela ficou tão feliz com a nossa experiência que resolveu nos dar algumas frutas de graça. Quando disse para ela que o local da tenda dela estava no aplicativo Wikicamps como ponto de interesse, ela me pediu para ler os comentários. Ficou extremamente agradecida, e resolveu me presentear com mais frutas gratuitas. Foi uma experiência muito bacana conversar e interagir com ser humano tão agradável.
Água cristalina e morna num local lindo e deserto. Quer mais o que?
Diversas lagoas se formam, infelizmente não deu para fazer Rock Slide.
Soulsurfer, depois de um banho memorável, apreciando a beleza da vida...
Diversas Tartarugas no lindo Big Cristal Creek.
Barraquinha da Senhora extremamente simpática. Além da simpatia, da qualidade das frutas e legumes, os preços eram muito baixos.
Mais um banho de cachoeira numa lagoa extraordinária (Little Cristal Creek).
A famosa ponte de Paluma.
A cidade me surpreendeu. Possui uma orla marítima, chamada de The Strand, lindíssima, com lagoa artificial, parques infantis, sorveterias, churrasqueiras elétricas e outras amenidades. Além do mais, a cidade possui uma montanha onde se é possível ir de carro, ou andando, e ter uma visão impressionante de 360 graus da região. Foi um dos miradores mais bonitos onde eu já tive o prazer de estar e chama-se Castle Hill Lookout. Aliás, é um dos pontos de encontro da população, pois era sábado de tarde e o local estava repleto de locais correndo, andando ou simplesmente admirando o bonito pôr-do-sol.
O lookout Castle Hill da cidade de Townsville é impressionante. Essa imagem mostra apenas uma parte. Era possível ter uma visão de 360 graus e para qualquer lugar que se olhasse era bonito e interessante
Foi um pôr-do-sol muito bonito mesmo.
De noite a The Strand era muito bonita, bem iluminada e com muitas pessoas passeando despreocupadas. Seria bom ter espaços públicos assim no Brasil.
De dia na The Strand, uma placa dizendo para se ter cuidado, pois um crocodilo foi avistado recentemente no local. Eu fico imaginando um animal de mais de cinco metros andando pela cidade de dia....
Na manhã do outro dia, fomos para a simplesmente alucinante Magnetic Island. Não vou contar sobre este local neste artigo, pois este lugar merece um artigo específico. Talvez faça um artigo apenas sobre as ilhas da Austrália. Este artigo vem sendo escrito bem lentamente, então quando escrevi as últimas frases ainda não tinha ido para a Withsunday island, conhecer uma, segundo reza a lenda, das praias mais bonitas do mundo: A Whitehaven Beach. É, junto com uma praia nas Filipinas, a praia mais bonita do mundo. Quase chorei em contemplar tanta beleza. Este lugar mágico merece um artigo próprio. Pretendo ir em algum tour para a famosa Fraser Island e quem sabe para outra ilha que descobri que existe apenas há alguns dias e parece ser muito bonita também (Great KeppeI Island) - na verdade, enquanto escrevo essas linhas estou dormindo há uns 70Km do ferry para ir a esta ilha numa rest area perto da estrada. Dirigir de noite é extremamente perigoso mesmo e quase atropelamos um canguru há poucas horas. Portanto, reunirei essas experiências insulares numa série de diversos artigos (obs - publiquei esse artigo depois de ir a Keppel Island. Parece repetitivo e chato, mas que lugar incrível e lindo. Fui numa praia deserta que era uma coisa de louco. Vai ganhar um artigo próprio:)).
De volta da fenomenal Magnetic Island, passamos um final de tarde muito agradável em Townsville. Fomos de novo para a The Strand e no final da mesma descobrirmos que havia um morro onde um antigo forte existe há mais de 100 anos. Hoje em dia, o local virou como um museu e um memorial dedicado aos esforços de guerra australiano. Chamou-me atenção o painel gigantesco representando os dias da famosa e decisiva Battle of The Coral Sea. Um dos temas que mais me atrai são as histórias sobre a segunda guerra mundial. Há tantas dimensões diversas do conflito que se pode ocupar anos e anos com as diversas histórias. Não é à toa que já se fez dezenas, quiçá centenas, de filmes sobre a segunda guerra e sempre há uma história diferente para ser contada. A estratégia militar (lembre-se que fui enxadrista) nos diversos fronts do conflito é muito interessante para mim. A parte da guerra do pacífico confesso que conheço pouco, mas pretendo me aprofundar mais quando tiver mais tempo. A Austrália, como não podia deixar de ser, teve uma participação imensa na guerra do pacífico, pois até meados de 1942 a ameaça de uma invasão japonesa era muito real, sendo que algumas cidades australianas chegaram a ser bombardeadas pela força aérea japonesa.
A Batalha do Mar de Corais foi decisiva, pois impediu que o Japão conquistasse a Papua Nova Guiné, o que tornaria a invasão da Austrália quase que iminente. Há diversos memoriais espalhados pelas cidades australianas, pelo menos naquelas pelas quais passei, especificamente sobre essa batalha. Entretanto, o painel que eu vi em Townsville foi o maior de todos e extremamente interessante. Foi uma tarde extremamente agradável. De tardezinha, fomos a um complexo público. Havia wi-fi de graça, banho quente de graça, churrasqueira e ainda por cima era na beira de um rio lindo. Infelizmente, não dava para acampar e fomos dormir num rest camp, basicamente um local ao lado de um posto de gasolina onde os caminhoneiros descansam. Ao contrário do Brasil, é tudo muito limpo, seguro e com razoável estrutura. Havia muitas campervans e não deixou de ser uma experiência diferente.
Battle of The Coral Sea. Batalha estratégia e vital para Austrália e aliados no front do Pacífico na segunda guerra mundial.
Painel gigantesco com todas as movimentações táticas (creio que preciso fazer um artigo sobre a diferença entre tática e estratégia, algo muito corriqueiro para quem joga xadrez) da batalha. Fiquei acompanhando como criança....
A aliança entre EUA e Austrália é muito forte. Aliás, a segunda guerra mundial marca uma mudança da Austrália em relação a Inglaterra. Ao final do conflito, a Austrália aproximou-se muito dos EUA, cortando os laços umbilicais com a antiga metrópole (na foto, memorial em homenagem aos soldados americanos que ajudaram na defesa da Austrália)
Caminhando em uma agradável trilha na agradável cidade de Towsville...
Lembram-se do "piscinão de ramos" de Cairns? Pois fui descobrir que toda cidade de médio porte na Austrália, pelo menos as que eu visitei até agora, possui uma lagoa artificial (eu vi uma lindíssima que parecia mais uma piscina de hotel cinco estrelas no caribe). A lagoa da cidade era muito bonita, mas a água estava bem gelada e não me animei de entrar.
Dormindo em um dos inúmeros Rest Area que existem pelo país para ajudar viajante de noite...
Enquanto termino de escrever essas linhas, fui bolando esse artigo um pouco em cada dia antes de dormir, já tenho tantas outras histórias para contar e registrar. É incrível, não dá para acreditar que numa viagem tão longa como essa, cada dia seja tão diferente e especial. Imaginava que seria algo muito bacana fazer essa viagem, mas sinceramente não pensava que seria tão especial mesmo. Só posso dizer que estou muito contente, sentindo-me muito vivo e conectado com o mundo e as pessoas.
No “front" financeiro, a semana que passou foi bem interessante. Engatei uma operação de médio porte, sem qualquer risco jurídico. Num cenário realista-levemente otimista (eu divido os cenários dessas operações assim: pessimista, realista, levemente otimista, otimista, etc) pode me render um ano de despesas pagas de viagem (ou seja, posso teoricamente viajar mais um ano) ou dois anos de despesas pagas no Brasil. Como é operação sem risco jurídico, o retorno pode acontecer apenas em alguns meses. O interessante é que não fiz absolutamente nada, apenas dei o aval para que fosse feito e ajudei em pequenos detalhes, algo que não me consumiu nem uma hora. Numa outra operação de maior envergadura, a mais complicada do ponto de vista jurídico que enfrentei até hoje (só estou nela pela grande margem e pelo valor “intrínseco” do imóvel), e de negociação, consegui uma liminar para lá de favorável, determinando a desocupação imediata, bem como indisponibilizando uma grande soma em dinheiro da outra parte. Como, pelas minhas contas, ela já deve algo em torno de 50k só de taxa de ocupação, o custo dela continuar litigando (pagando inflação mais 12% de juros de mora e mais honorários de sucumbência) em caso de derrota se tornou enorme, pois ela está com dinheiro indisponível. Assim, três anos de litígio, mesmo com o imóvel desocupado fará o débito passar para 100k. Ainda não considero uma situação sem risco jurídico, mas houve um grande avanço com essa liminar. Tinha, e ainda tenho, tanta dúvida em relação a essa operação que a contabilizava pelo "valor patrimonial” da aquisição. Se ela se consolidar juridicamente, talvez pague uns cinco anos das minhas despesas no Brasil e quase uns três anos de viagem, acaso eu queira continuar rodando o mundão. Por fim, na minha maior operação em andamento (ainda tenho algumas outras), foram oferecidos em permuta do imóvel uma chácara e uma casa num condomínio fechado no bairro do Morumbi em São Paulo. Não me interessei, mas pelo menos mostrou que esse imóvel é competitivo e tem púbico, apesar de ser bem mais ilíquido pelo alto valor envolvido. Logo, talvez consiga em seis ou oito meses fechar essa operação, o que seria muito bom.
É isso colegas, espero que tenham gostado. Próximo artigo procurarei falar sobre algum outro tópico como herança, ou o mito do “mito sueco”, ou sobre a pequenez de se associar sucesso financeiro com sucesso enquanto ser humano, ou mais uma vez sobre serviço público ou sobre a miopia da precificação da vacância em FII e de imóveis ocupados com litígio, ou não, na Justiça em leilões. Se houver algum tópico que os leitores desse blog gostariam de ler, dentre os listados, deixem a preferência nos comentários. É bom ter o feedback de vez em quando das pessoas que gostam ou não de ler o que escrevo.
Apenas um aperitivo para os próximos artigos sobre a Austrália (Forts Trail - Magnetic Island)
Abraço a todos!
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